A vida tem um jeito sorrateiro de escorregar para o automático. No começo, você nem percebe. Acorda, faz café, sai para o trabalho, volta para casa, assiste a alguma coisa no celular e dorme. No dia seguinte, tudo se repete, como um relógio bem ajustado, mas sem brilho.
Os momentos que antes pareciam grandes — uma tarde chuvosa com um livro, um encontro inesperado, uma música que arrepiava a pele — agora passam despercebidos. Você já não presta atenção ao vento que balança as árvores ou ao sorriso do vizinho que cumprimenta no elevador. Tudo vira fundo de cena para uma rotina que se impõe sem pedir permissão.
Então, um dia, entre um e-mail e outro, entre uma fila de supermercado e o trânsito parado, vem a pergunta: Onde foi parar a motivação? Onde se escondeu a esperança? O que aconteceu com aquele lado lúdico de viver?
Talvez a resposta esteja na pressa, no peso das responsabilidades que se acumularam sem que você percebesse. Ou talvez seja apenas o tempo, que nos ensina a sobreviver antes de lembrar que a vida é mais do que isso.
Mas, se por um instante você parar — realmente parar — e olhar ao redor, talvez enxergue algo diferente. Um detalhe esquecido. O cheiro de café recém-passado, o som distante de uma gargalhada sincera, o sol atravessando a janela de um jeito bonito. Pequenas brechas no automático. Pequenos convites para voltar a sentir.
A vida, afinal, nunca parou de ser lúdica. Só precisamos aprender a desacelerar para enxergá-la de novo.